Foto: Agência Brasil
A carreira do/a professor/a e a educação pública nunca foram tão desvalorizadas, como nos últimos anos no Brasil. Professores/as estão desistindo de dar aulas e adoecendo, mas são fundamentais para se ter um país melhor e menos desigual, como mostrou a realidade da pandemia.
“A questão é que a educação precisa que mais jovens passem a ter interesse pela profissão, mas a falta de perspectiva de futuro é um grande obstáculo”. A afirmação é do presidente em exercício da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, que também é professor de arte, e sua preocupação é confirmada com dados recentes.
A pesquisa do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), divulgada no mês passado, mostra que o desinteresse dos jovens em seguir a carreira de professor está relacionado a diversos problemas, entre eles o processo de precarização da profissão, como a baixa remuneração e a falta de reconhecimento de sua importância na sociedade.
Para se ter uma ideia, em 10 anos o número de calouros em licenciaturas cresceu 53,8%, porém, nos demais cursos, o índice foi de 76,0%. Entre os ingressantes com até 29 anos, houve um aumento de apenas 29,7% do corpo discente, enquanto nos demais cursos esse número chegou a 49,8% na mesma faixa etária. O material aponta ainda o problema da evasão. Nos dez anos analisados, o percentual de estudantes que concluíram os cursos de licenciatura aumentou apenas 4,3%.
Segundo Leão, o país já tem menos pessoas que querem ser professores, a falta da categoria já é sentida em diversos estados brasileiros e é por isso que a entidade continua na luta por melhorias na profissão.
Ele conta que hoje o piso do magistério já está funcionando em diversos estados, mas para profissionais de início de carreira e de nível básico. O que Leão destaca é que os profissionais de nível universitário, com mais tempo de casa, ainda não são reconhecidos e valorizados.
“O problema é que os governos achataram a carreira, pagam o piso para quem começa e para o professor que tem nível superior a diferença é de R$ 20 a R$ 30 reais, o que não valoriza a carreira, que precisa dar perspectiva para o trabalhador/a. Este/a profissional precisa começar hoje numa determinada referência e quando se aposentar, depois de 30, 35 anos precisa ter seu trabalho reconhecido com um salário digno”, afirmou ele.
O professor de artes disse que é preciso uma carreira que valorize a formação, o título de mestrado, doutorado, entre outros, porque é importante que os professores vão para as universidades, se dediquem a estudar a educação, que mergulhem profundamente no debate, discussão, pesquisa e continuem dando aula na educação básica, porque este conhecimento é importante para qualificar o sistema público.
“A CNTE lutou pelo piso do magistério e continua lutando para que seja implantado no país todo, mas a gente continua na luta por uma carreira que dê perspectiva de futuro para o trabalhador e para a trabalhadora, que valorize sua experiência educação e o seu trabalho na escola”, afirma o presidente interino da CNTE, que complementa: “A gente precisa de uma carreira que possua elemento de evolução, que seja absolutamente possível para os professores, e não alguma coisa que seja difícil de ser conseguido”.
O estudo do Instituto Semesp revelou também que o Brasil precisará de 1,97 milhão de professores em 2040, mas as projeções indicam que o total deles cairá 20,7% em 18 anos, gerando um déficit de 235 mil profissionais. Hoje, a proporção é de 20 estudantes com idades entre 3 e 17 anos na educação básica para cada docente em atividade.
“Nós só vamos superar este problema com a valorização destes profissionais. Nós costumamos dizer que a educação de qualidade vai ser atendida através de um tripé que são: financiamento, para termos uma carreira atraente, gestão democrática, com participação da comunidade escolar no processo pedagógico da escola, nos projetos e na eleição de direção, e valorização profissional, com bons salários, carreira e valorização do trabalho do professor”, destaca Leão.