Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A pandemia da Covid-19 e a má gestão de Jair Bolsonaro (PL) na crise sanitária causaram perdas irreparáveis na aprendizagem para 61% dos jovens brasileiros. O Brasil, que já vinha perdendo recursos da educação, foi um dos países que mantiveram as escolas fechadas por mais tempo, o que refletiu nos piores desempenho dos alunos nas escolas.
Os dados fazem parte da pesquisa Datafolha, divulgada nesta quarta-feira (19), e escancaram o problema da alfabetização do ensino no Brasil. O levantamento ouviu jovens na faixa de 15 a 19 anos entre os dias 20 e 21 de julho em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia, Brasília, Manaus e Belém.
Gregório Grisa, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e doutor em Educação, avalia que o impacto da pandemia foi notado inclusive no resultado do Saeb deste ano e diz que o resultado da pesquisa Datafolha escancara o problema na alfabetização do ensino fundamental por falta de coordenação do Ministério Da Educação (MEC).
“Tem que organizar a situação de aprendizagem com articulação nos municípios e nos estados porque a alfabetização foi a mais prejudicada. A gente tem uma evasão escolar no ensino médio após a pandemia, a aprendizagem é recuperável mediante a um grande esforço institucional entre os poderes das três esferas, isso infelizmente a gente não viu no Brasil”, diz.
A má gestão de Bolsonaro
Como já mostrou a CNTE, a má gestão do governo Jair Bolsonaro (PL) na crise sanitária levou à evasão escolar, problemas de aprendizagem, falta de estrutura nas escolas e queda nas matrículas. O Ideb também mostrou que pandemia resultaram em uma queda de aprendizado dos alunos de escolas públicas e privadas em todas as etapas da educação básica.https://www.cnte.org.br/index.php/menu/comunicacao/posts/noticias/75275-pandemia-ampliou-desigualdade-no-ensino-e-perda-de-aprendizagem-nas-escolas
De acordo com a pesquisa Datafolha, a percepção dos jovens muda de acordo com o gênero. Entre as mulheres 65% afirmam perda na aprendizagem, 57% dos homens apontam perda na educação.https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2022/10/maioria-dos-jovens-ve-perdas-irreparaveis-de-aprendizado-devido-a-pandemia-diz-datafolha.shtml
Para Gregório, a gestão Bolsonaro na educação foi marcada pela péssima administração na pandemia e pela troca de cinco ministros, sendo um deles preso por corrupção.
“Eram ministros ligados ao campo ideológico que realmente não tem no seu escopo as reais prioridades da educação. A questão das guerras culturais, a escola militar, a pauta de um certo combate ligado aos costumes religiosos, tudo isso foi a tônica na gestão Bolsonaro”, recorda.
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam que a taxa de abandono escolar mais que dobrou em 2021, de 2,3% (2020) para 5,6%. “Os dados mostram o volume de estudantes matriculados, mas que não estão frequentando a escola. A questão do ensino médio e a inclusão digital e acesso à internet foi algo que poderia ter sido muito melhor tratado no Brasil”.
Novo Fundeb
De acordo com o professor, as perdas só não foram piores nos anos de 2021 e 2022 por conta do repasse para a educação básica em função do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), aprovado em 2020.
“O novo Fundeb foi à revelia da vontade do governo Bolsonaro que não fez nenhum esforço para aprovar, a complementação da União que era de 10%, passou para 23% até 2026 de forma escalonada. O único alento que nós vamos ter é o ajuste do Fundeb”.
As universidades também são impactadas
Não é só a educação básica e o ensino fundamental que sofrem com o desgoverno Bolsonaro. Para Gregório, as universidades públicas, além do corte que sufoca o funcionamento das instituições, houve uma queda drástica no número de matrículas, coisa que não ocorria há mais de 20 anos. '“A gestão é marcada por um descaso com os reais problemas do Brasil, o país não avança na educação profissional e superior, pelo contrário, nós temos pela primeira vez a redução de matrículas no ensino superior nas últimas duas décadas”, finaliza.