A ditadura militar e a repressão a músicos no Brasil


Como "inventores da tristeza", militares não poupavam ninguém, independentemente de se determinado músico era considerado pop, brega ou chique.


Não é sem razão que Jair Bolsonaro detesta arte, cultura e educação. Foto/reprodução.
Por Landim Neto, editor do Dever de Classe


Cultura | Durante a chamada 'ditadura militar' no Brasil (1964-1985), censores gastavam a tesoura e tentavam de todas as formas mutilar ou mesmo impedir que várias canções fossem tocadas. Como "inventores da tristeza", os heróis de Jair Bolsonaro não poupavam ninguém, independentemente de se determinado músico era considerado pop, brega ou chique. Os anos de chumbo — também no terreno das artes — prestou um grande desserviço ao País.
Chico, o mais censurado


Dentre os artistas preferidos pela censura, Chico Buarque foi um dos mais procurados. O cerceamento era tamanho que o poeta recorreu a um pseudônimo — Julinho da Adelaide — para não ver parte de sua obra ir parar nas prateleiras dos quartéis. Foi com esse artifício que conseguiu brindar a todos com a música "Acorda, amor", em 1974, onde se referia à repressão contra quem se opunha aos militares.

Chico é também autor de "Apesar de você", um dos clássicos do período ditatorial no Brasil. Continua, após o anúncio.

Ninguém era poupado

Mas não apenas cantores de classe média, como Chico Buarque ou Ivan Lins, eram importunados. Os chamados "bregas" também tiveram suas músicas fiscalizadas. Benito di Paula não foi visto com bons olhos pelos militares quando, em 1974, lançou "Tributo a um rei esquecido", em homenagem a Geraldo Vandré, músico paraibano autor de "Pra não dizer que não falei das flores", canção-hino contra a ditadura militar no Brasil.

Odaí José também teve problemas. Ao lançar "Pare de tomar a pílula", em 1973, o governo Médici o considerou "perigoso", vez que nessa época era desenvolvida uma campanha de controle de natalidade no País. E ainda entre os "não-intelectuais", Waldique Soriano e sua "Eu não sou cachorro, não" deixaram os milicos de orelha em pé. Afinal, não era permitido sequer insinuar que havia injustiça social por aqui. Continua, após o anúncio.

População

Um dado curioso é que a censura às vezes vinha de setores da própria população que apoiavam o regime e se enquadravam na moral que os militares queriam impor a todo o País. Segundo Jeocaz Lee-Meddi, escritor nascido em Goiás, a música "Severina xique xique, de Genival Lacerda, por exemplo, foi contestada por famílias do Ceará, que viam na palavra "boutique" uma espécie de duplo sentido e um atentado aos bons costumes do lugar.
Tudo era motivo

Para censurar ou proibir uma música não era preciso muita coisa. A bela "Pequeno mapa do tempo", de Belchior, foi censurada apenas porque recorre muito à palavra "medo", algo que aos generais soava como uma denúncia velada aos governos que faziam. E "Vaca profana", de Caetano Veloso, também sofreu restrições, já nos finais da ditadura, sem que sequer se dissesse claramente por quê.

O período foi sombrio. As músicas, porém, de muito valor.

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