Alunos agressivos reproduzem violência familiar

< Segundo psicóloga a violência começa no pré-escolar e atinge até alunos universitários.

Em entrevista ao Notícias da hora, a psicóloga Maria Julieta analisou como grave o quadro de violência nas escolas públicas. A professora universitária disse que o que foi divulgado até agora é apenas a ponta do iceberg de uma situação caótica que exige o esforço de toda sociedade.
Mestre em psicologia, durante nove anos no Acre, Julieta trabalha com alunos desde a pré-escola até o ensino superior. Ela faz um alerta ao processo de democratização da educação afirmando que o professor vem sendo colocado numa situação vexatória.
“A escola não pode fazer o papel da família”, disse a especialista. O perfil dos alunos impulsivos que chegam à agressividade é de filhos de pais separados, envolvidos com drogas e com situações de violência dentro das famílias.
Para Julieta o Estado precisa mudar a visão de sua polícia para depois colocá-la dentro das escolas. E pediu mais investimentos em marketing educativo.
Longe de defender a escola tradicional, a psicóloga acredita no diálogo como alternativa para a crise, mas disse que a sociedade precisa colaborar na busca por auto ajuda e numa nova visão do papel da psicologia. Confira a entrevista.
NOTICIAS DA HORA – O que estamos vivendo é apenas um surto ou vivemos mesmo uma situação de violência nas escolas?
Maria Julieta – Eu atendo alunos desde a pré-escola até a faculdade e me deparo todos os dias com situações vexatórias. A empatia com o professor, seus colegas, acaba interferindo no rendimento escolar. Essa pessoa apronta tanto, que quando não consegue resolver alguma atividade acha que é vingança do professor. Isso gera a impulsividade. Porque esse aluno acha que não pode ser cobrado. O aluno passou a entender que pode tudo e o professor não pode nada.
NOTICIAS DA HORA – A impulsividade já é um comportamento de violência?
Maria Julieta - Da impulsividade para a agressividade é somente um pulo. Está transformado o caos na educação. A criança muito violenta, por mais inteligente que seja tem dificuldade de aprender porque tem dificuldade de viver em grupo, briga com seus colegas, vivem na defensiva.
NOTICIAS DA HORA – Mas por que essa criança leva esse comportamento impulsivo para dentro da sala de aula?
Maria Julieta – Primeiro porque os pais têm dificuldades de impor limites aos filhos. Eles acham que educar é apenas dizer sim. Então fica difícil porque isso acontece desde criancinha, então quando chega ao ensino fundamental isso se torna impossível. Como educadores a gente pode chamar e orientar, mas não podemos assumir o papel da família.
NOTICIAS DA HORA – A senhora acredita que o problema é de família?
Maria Julieta – Eu tenho certeza. Os pais têm que acabar com essa visão de apenas colocar os filhos na escola ou de querer entregar para o Conselho Tutelar. Mas assumir o papel de educador e ter a escola como parceira, participar das reuniões, estreitarem a relação com os professores. Hoje acontece o contrário, eles trabalham o dia todo e simplesmente entrega seus filhos a escola, achando que a escola pode fazer tudo.
NOTICIAS DA HORA – Por que a senhora fala de situações vexatórias?
Maria Julieta – Porque o professor vem perdendo a referência de detentor do saber, não existe, mas respeito ao professor como uma autoridade dentro da sala de aula.
NOTICIAS DA HORA – A senhora não estaria defendendo um professor do modelo tradicionalista?
Maria Julieta - Não estou defendendo o autoritarismo sem diálogo, mas a autoridade com diálogo. O aluno acha que o professor não pode exigir. O professor tem marcado seu posicionamento, mas o aluno não dar importância. Então se eu não admiro o professor, se eu não respeito o professor como eu posso ter interesse em aprender com ele ou dele ser mediador do meu aprendizado? Na hora que vem a prova, eles acham que o professor está se vingando dele. Isso é realidade até de faculdade. Como eles abusam muito de sua disciplina, eles estão sempre esperando vingança do professor. Qualquer atitude que ele tem é mal interpretado. Então o professor vive numa situação super difícil.
NOTICIAS DA HORA – Esse aluno impulsivo não está levando para dentro da sala de aula, algum tipo de realidade?
Maria Julieta - Mas que a televisão e a internet, as crianças e os adolescentes levam para dentro das escolas a agressividade que elas vêem no relacionamento dos pais. Eles são referências em tudo. Muitos filhos de policiais querem ser policiais quando crescerem porque têm os pais como ídolos, mas tem a policia como uma instituição que mata. Precisamos mudar essa realidade. Seja filho de policial ou não, são filhos de uma realidade de violência em casa. A criança tem como referência aquele que pode tudo. Então fica aquele ideal de que quanto mais eu cresço mais violento eu sou, mas poderoso eu sou. Ai a capacidade de aprendizado da criança fica muito prejudicada.
NOTICIAS DA HORA – Esse é o perfil do aluno impulsivo?
Maria Julieta – Sim, é filho de policiais, filhos de casais separados, com problemas de drogas na família, o esfacelamento da família vem provocando os maiores problemas sociais em todo o mundo.
NOTICIAS DA HORA – E qual a saída, o reforço do policiamento, a capacitação dos profissionais, isso vai ajudar na diminuição dessa violência?
Maria Julieta – Deve é fortalecer mais a educação entre os profissionais que trabalham na escola, os alunos e a comunidade e das famílias com a escola. Tem que ter esse compromisso.
NOTICIAS DA HORA – E onde o Estado entra nessa história, não parece que está se querendo jogar toda culpa na família?
Maria Julieta – E você quer que eu diga isso? Veja bem, acho que a culpa do Estado está no modelo capitalista que estimula o consumismo e faz com que as pessoas não tenham tempo. Esse sistema é pouco cuidadoso, trabalha pouco a solidariedade humana. Acho que o Estado precisa investir mais em propaganda educativa, essa também é outra grande saída. Mas estamos diante de um problema que exige um esforço de todos.
Por JAIRO CARIOCA (Notícias da Hora)18 de maio de 2009
Sinteac

Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem