“O câncer não é sentença de morte”: professora acreana transforma dor em força


O câncer de mama é o tipo mais incidente entre mulheres brasileiras, com impacto ainda maior nas regiões Norte e Nordeste
Dry Alves, ContilNet

Outubro Rosa é mais do que uma campanha, é um chamado à conscientização, ao autocuidado e à luta por políticas públicas que atendam a todas as mulheres, inclusive as mais jovens, como a professora Naiara Pinheiro que descobriu o câncer de mama prestes a completar 33 anos. O diagnóstico chegou num dos momentos mais importantes da sua vida: recém-efetivada em um concurso público, com planos de viagens, o sonho da maternidade e o prazer diário de estar em sala de aula com os seus alunos.

O diagnóstico chegou num dos momentos mais importantes da sua vida: recém-efetivada em um concurso público/Foto: Cedida

“Então, eu descobri o câncer com 32 anos, há um mês e pouquinho de completar 33 anos, e ele veio de forma devastadora. Querendo ou não, ele interrompe sim os sonhos, ainda mais de uma mulher jovem, quando você começa de fato a alcançar os sonhos de sua vida. Estava no início da minha carreira como professora efetiva e amava muito estar em sala de aula com os meus alunos, tinha planos de viagens, ainda sonhava em ser mãe em algum momento ali, e com muitos planos. O câncer vem fazendo 360 na minha vida, fazendo com que eu achasse que aconteceria o pior”.

Sonhos interrompidos e força para adiar, não desistir

Apesar do choque inicial, ela relata que a resiliência e a fé se tornaram ferramentas indispensáveis para manter os sonhos vivos, ainda que adiados.

“Com o tempo fui aprendendo e entendendo. Sempre tive muita resiliência, muita fé de que eu iria vencer. E ao invés de destruir os meus sonhos, eu preferi pensar em apenas deixar eles ali guardados, adiá-los, para na hora certa voltar a colocá-los em prática. Só que isso demora um tempo”.

Ela lembra que nada permanece igual após o diagnóstico. “Eu costumo falar que a vida da gente nunca mais é a mesma após o diagnóstico. Muita coisa muda, até porque fisicamente falando, você muda totalmente. A sua disposição não é a mesma. Psicologicamente, a tua cabeça muda muito. Você já não tem mais aquele psicológico como antes. Se faz forte, mas nem sempre é assim. Então é algo que ele mexe totalmente com você, desde fisicamente, espiritualmente, mentalmente”. explica.

Ela destaca a importância do autoexame que as mulheres podem fazer para poder cuidar se cuidar/Foto: Cedida

A realidade dessa jovem mulher dialoga com um cenário nacional preocupante. Em 2024, o câncer foi a segunda principal causa de morte no Brasil, com mais de 157 mil óbitos. O câncer de mama é o tipo mais incidente entre mulheres brasileiras, com impacto ainda maior nas regiões Norte e Nordeste. No Acre, por exemplo, entre 2023 e 2025, foram registrados 391 novos casos da doença, sendo quase todos em mulheres. Em 2025, até 1º de outubro, já haviam sido identificados 115 casos, o que reforça a necessidade urgente de atenção, sobretudo entre mulheres fora da faixa etária historicamente considerada de risco.

“Não é fácil, ainda mais para a mulher jovem, porque as pessoas acham que esse diagnóstico só acontece com mulheres acima de 40, 50 anos. E não é. Infelizmente ele tem atingido um grande número de mulheres jovens e não que para mulheres mais velhas não seja difícil, pois nunca é fácil receber esse diagnóstico”, relata.

Segundo ela, o impacto é ainda mais profundo quando a doença atinge quem está no início de uma nova fase da vida. “Eu acredito que, não que com as mulheres mais velhas não seja difícil, porque pra todas nós é. Mas quando é diagnosticado numa mulher jovem, acredito que abala ainda mais, porque você está no auge da sua vida. Está vivendo momentos em que sonhou lá na sua infância e adolescência, e quando você começa a realizar aqueles teus sonhos e objetivos a doença vem e te paralisa”.

Uma política de saúde que começa a se adaptar

A resposta do Estado ainda precisa acompanhar essa mudança de perfil. Só em setembro de 2025, o Ministério da Saúde anunciou a ampliação do acesso à mamografia no SUS para mulheres a partir dos 40 anos. Até então, o exame era oferecido prioritariamente a mulheres entre 50 e 69 anos. A medida, embora tardia, representa um passo importante na prevenção e no diagnóstico precoce.

Até então, o exame era oferecido prioritariamente a mulheres entre 50 e 69 anos/Foto: Cedida

Fé, disciplina e a decisão de viver

Enquanto isso, Naiara reforça que é preciso buscar forças onde parece não haver. “Você precisa tirar força de onde não tem pra tratar uma doença que, até quando você era criança, era tida como uma sentença de morte. E você precisa ressignificar essa sentença de morte pensando que você quer viver, que você quer sobreviver, que você tem sonhos. Você se apega a esses planos, objetivos, para vencer”.

A professora afirma ainda que não é fácil, mas que é possível vencer e ela é a prova viva disso. “Tenho e tive muita fé em Deus. confiei nos médicos, fiz tudo certinho conforme eles falam. Você tem que ter muita força de vontade de querer. Porque não adianta a medicina fazer a parte dela, Deus lá de cima intercedendo, e você não fazer a sua parte”.

O poder do afeto no tratamento

Ela alerta ainda sobre o papel fundamental da rede de apoio. “Não é fácil, não estou romantizando. Mas a gente precisa querer vencer. Porque muitas vezes a gente acaba que não acredita no processo, e as coisas não saem bem como a gente quer. Sei que nem todo mundo consegue chegar ao resultado que a gente sonha, mas eu acredito que Deus sabe de todas as coisas. Tudo acontece conforme a vontade d’Ele, que é boa, perfeita e agradável. Mas também cabe a cada pessoa acreditar, confiar”, relata.

Para ela, ter o suporte emocional da família e amigos é fundamental.

“A gente precisa daquele apoio surreal dos familiares, dos amigos que fiquem próximos, que ajudem. Porque o amor, afeto, carinho e o companheirismo curam e vem como remédios a mais nesse tratamento”.

Esperança por um tratamento mais humano

Mesmo diante das dificuldades, ela segue acreditando em um futuro melhor, com mais esperança e menos dor. “Eu acredito que um dia ainda vai haver uma forma de cura mais branda, mais tranquila, que possa não devastar tanto a vida das pessoas. Acredito fielmente que o câncer não é essa sentença de morte na minha vida e vamos lutando, todo um dia de cada vez, fazendo a nossa parte. Que vai dar tudo certo”.

A professora afirma ainda que não é fácil, mas que é possível vencer e ela é a prova viva disso/Foto: Cedida

Ela destaca a importância do autoexame que as mulheres podem fazer para poder cuidar se cuidar. “É fundamental conhecer o seu corpo e se tocar para saber se está tudo bem. E ao menor sinal de algo anormal, nada de deixar para depois, procure um médico o mais rápido possível. Se amem, mulheres”, finaliza.

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