Estado amplia em mais de 200% o número de estudantes no Ensino Integral do Acre

FOTO: MARDISSON GOMES

O Ensino Médio é um dos principais gargalos da Educação no Estado há muito tempo. Não é de hoje que o Acre patina nos números. O problema não é uma exclusividade acreana. O dado divulgado pela ONG Todos pela Educação, tratando do ensino em tempo integral para alunos do Ensino Médio, novamente, coloca o Acre entre os últimos colocados, em um segmento que o país não vai bem há tempos.

Basta lembrar que, em 2016, ainda na administração do presidente Michel Temer, o desempenho dos alunos exposto no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica foi o pior da história. Assustou o governo de tal forma que provocou uma reação imediata do então ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho.

Atropelando uma discussão que se estabelecia entre os educadores há mais de 20 anos sobre possíveis mudanças no Ensino Médio, o ministro defendeu alterações em caráter de urgência. E, por meio de uma medida provisória, levou ao Congresso a proposta da aplicação do Ensino Médio em tempo Integral como se fosse uma solução mágica. O resultado não poderia ser outro que não esse que o país apresenta.

De uma hora para outra, os Estados tiveram que se adequar em oferecer alimentação, grade curricular, profissionais, estrutura física das escolas, tudo para se adequar ao susto ministerial diante do resultado do Ideb. O Ministério da Educação à época se assustou com o resultado do Ideb e quem pagou a conta foram os Estados.

“Ampliamos em mais de 100% escolas que oferecem ensino integral, e ampliamos em mais de 200% o número de estudantes no ensino integral”, defende o secretário de Estado de Educação, Aberson Carvalho. “Porém, não nego o desafio de fazer o ensino integral, em um estado que não possui essa cultura”.

É preciso fazer outro recorte: essa mudança do Ensino Médio aprovada no Congresso não observa com o devido cuidado a diversidade geográfica e cultural do país de dimensões continentais como o Brasil. É evidente que as mudanças aprovadas têm muito mais chances de obter resultados satisfatórios em regiões urbanas, com escolas com capital público já instalado e prontos para qualquer novo “susto ministerial”.

Outro recorte importante: o problema da renda. Muitos alunos do Ensino Médio precisam trabalhar para ajudar na renda da família. Como é que isso “dialoga” com a proposta do Ensino Médio em Tempo Integral? Só um dado que revela como esse fator é importante: 82% dos jovens entre 18 e 24 anos estão fora do Ensino Superior. Isso é um claro reflexo de um problema de natureza econômica, provavelmente, puxado pelo fator renda.

Os dados do Todos Pela Educação são graves, são importantes de serem observados. Mas é preciso contextualizar a cena toda para que não se cometa injustiças.

E há outro aspecto que também precisa ser lembrado: os problemas enfrentados pelos educadores com os jovens do Ensino Médio revelam, sobretudo, deficiências graves no Ensino Básico. São “vazamentos” de um nível de ensino ao outro. Nem mesmo a universalização do ensino, dos quatro aos 17 anos, foi concretizada no país. Do sexto ao nono ano, o que se chama agora de Ensino Fundamental tem problemas mais graves ainda. Sem equacionar os problemas que parecem cristalizados nos anos iniciais é difícil cobrar excelência no Ensino Médio. Não é justo nem com educadores e nem com os administradores.

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