Governo elabora medida para proibir uso de celulares em salas de aula

Projeto de lei buscará dar maior segurança jurídica às ações tomadas pelas redes de ensino

Nos próximos dias, um projeto de lei que proíbe o uso de celulares dentro das salas de aula deve ser encaminhado pelo governo Lula ao Congresso Nacional. No dia 20 de setembro, o ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou sobre os planos de envio da proposta ao legislativo que visa banir os aparelhos das salas de aula das escolas da rede pública e privada.

A proposta faz parte do compilado de ações que buscam reduzir o excesso do uso de telas por crianças e jovens e melhorar a atenção dos estudantes durante as aulas.

Segundo a pasta, o projeto deve ser divulgado ainda no mês de outubro, sem data confirmada. Ao jornal Folha de S. Paulo, o ministro declarou que a medida tem o objetivo de dar mais segurança jurídica para as redes de ensino na implementação de ações consideradas efetivas para o banimento total dos dispositivos nas salas de aula.

Para a secretária de Assuntos Educacionais da CNTE, Guelda Andrade, o uso do celular é um fator que contribui para a desatenção em todas as idades, mas, especialmente entre crianças e adolescentes, e que tem trazido prejuízos para o aprendizado em sala de aula.

“Eles ficam o tempo inteiro vidrados no celular, com o foco em outras questões, e o impacto negativo disso está na não aprendizagem em sala de aula. Sem contar os transtornos que causam para o professor, que, muitas vezes, acaba perdendo o controle da disciplina e organização”, relata.

De acordo com o Relatório Global de Monitoramento da Educação, publicado pela Unesco em 2023, apesar do potencial das tecnologias para auxiliar o aprendizado de alunos com deficiências ou necessidades especiais em sala de aulas, quando inadequadas ou em excesso, podem ter um impacto negativo para o processo de aprendizagem e nas interações humanas.

Com base em dados fornecidos pelo Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA), o relatório aponta a possível correlação negativa entre o uso excessivo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no desempenho acadêmico. “Descobriu-se que a simples proximidade de um aparelho celular era capaz de distrair os estudantes e provocar um impacto negativo na aprendizagem em 14 países”, compartilhou o estudo.

Proibição em outros países

Outras nações já têm tomado medidas sobre o uso dos celulares pelos estudantes. Na França, até os 15 anos, os estudantes não podem utilizar nenhum tipo de dispositivo conectado, como relógios inteligentes, celulares e tablets. A proibição permanece até mesmo durante intervalos e recreação.

Espanha, Finlândia, Holanda, Itália, Suíça e México são outros exemplos de países que também restringem o uso de celulares durante o momento de aprendizado em sala.

No início deste semestre, a Grécia e a Dinamarca também passaram a banir o uso dos aparelhos, que devem permanecer dentro da mochila dos estudantes durante todas as aulas.

No Brasil, a cidade do Rio de Janeiro é a única que já proibiu o uso dos celulares em todas as escolas municipais públicas. A decisão foi assinada pelo prefeito Eduardo Paes (PSD) um mês após a divulgação do relatório da Unesco, contando com a participação de mais de 10 mil contribuições na consulta pública feita pela secretaria municipal de educação.

Do total de participantes, 83% declararam ser favoráveis à proibição, 11% parcialmente favoráveis e 6% contra.

Debates

No Senado, o presidente da Comissão de Educação (CE), Senador Flávio Arns (PSB-PR) sinalizou a realização de debates sobre o tema no Congresso Nacional, uma vez que impacta a formação de jovens, adolescentes e crianças.

“Tem que ser debatido no Senado Federal. O que a gente tem que pensar sempre é que tem que haver regras, formação. O celular, por um lado, pode ser muito útil para muitas coisas, mas estamos falando de crianças e adolescentes em particular. E a prioridade tem que ser o bem-estar, o desenvolvimento físico, mental. Então, esse debate vai acontecer de uma maneira cada vez mais intensa dentro do Congresso Nacional", disse.

Para a dirigente da CNTE, com um bom encaminhamento de estudos e avaliações sobre o tema, a aprovação do projeto de lei poderá contribuir muito para o processo de ensino/aprendizagem. “O relatório da Unesco nos traz informações importantíssimas e cabem muitas reflexões sobre como estamos encaminhando todo o processo educacional. Apesar de estarmos tendo um movimento tardio, ainda bem que estamos refletindo sobre o impacto negativo do excesso de telas em sala de aula”, conclui Guelda.

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