Dores na lombar, nas mãos, fadiga e rigidez muscular. Esses são alguns dos sintomas mais comuns que o corpo humano apresenta quando esforços repetitivos exigidos pelo trabalho começam a interferir na saúde do trabalhador. Um levantamento feito pelo Ministério da Saúde em 2019 mostra que, em 10 anos, quase 70 mil pessoas tiveram de ser afastadas do trabalho por conta de lesões e doenças por esforço de repetição.
Na escola, a situação não é diferente. Segundo aponta o órgão, desde os profissionais que estão em sala de aula, no secretariado, até os responsáveis pela limpeza e alimentação são suscetíveis a essas lesões.
Em busca de trazer mais conscientização sobre a LER/Dort, em 2000, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 28 de fevereiro como uma data internacional de combate às doenças.
À Confederação Nacional dos trabalhadores em Educação (CNTE), a médica especialista em cirurgia da mão, doutora Tatiana Gomes, explica o que caracteriza as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados Ao Trabalho (Dort).
“A LER consiste em um conjunto de doenças caracterizadas por sobrecarga no sistema musculoesquelético. Já a sigla Dort, por sua vez, é mais específica. Indica que os distúrbios são em nível ósseo e muscular, além de especificar que são doenças ocupacionais”, detalha.
Rotina com dores crônicas
De acordo com a médica, dentro do espectro de condições da LER e Dort, as mais comuns entre professores e trabalhadores da educação são as tendinopatias (Inflamação nos tendões); bursites (inflamação das bursas, regiões localizadas nos ombros); e síndromes compressivas dos nervos, que afeta múltiplas regiões dos braços.
“(Entre as síndromes), por exemplo, é muito comum a Síndrome do Túnel do Carpo, que se dá pela compressão do nervo mediano na mão, e atinge principalmente os membros superiores, como ombros, cotovelos, punhos e mãos”, explica Tatiana.
"(São condições) que afetam demasiadamente as professoras e professores, porque as condições de trabalho que temos são insalubres", lamenta a secretária de Saúde do Trabalhador da CNTE, Francisca Seixas. "Trabalhamos muito tempo em pé e com os braços levantados, escrevendo na lousa ou falando aos alunos. Não temos tempo para a prática de exercícios para combater a incidência desse grave problema, que se arrasta há décadas sem solução. O nosso ritmo de trabalho é intenso e contínuo e não é nos dado tempo e orientação adequada para o descanso do grupo muscular envolvido em nosso trabalho", conta.
Erika Teodora Rolim Póvoa, 44, completava seis anos como professora da rede pública do Distrito Federal quando tarefas cotidianas, como recortar papéis e escrever, passaram a lhe causar fortes dores nas mãos. Diagnosticada com a Síndrome, 9 anos depois, mais uma enfermidade viria interferir na sua rotina de trabalho. Desta vez, a fibromialgia, doença que, pode causar dores musculares generalizadas e sensibilidades no corpo.
"Convivo com dores crônicas que têm piorado bastante", conta Teodora.
Por conta do desconforto, a professora precisou ser readaptada nas atividades laborais. Das salas de aulas, sua atuação migrou para a biblioteca da escola onde trabalha, sendo contadora de histórias.
Alongamento e prevenção
Para prevenir o surgimento de lesões, a médica aponta algumas atitudes que podem ser adotadas no dia a dia, como manter uma boa postura e alongar-se. “Qualquer movimento repetitivo por tempo prolongado, postura incorreta, falta de atividade física, e até o estresse psicológico pode causar prejuízos a longo prazo”, relata.
“As orientações para prevenir as LER/Dort são: manter a coluna alinhada, com os membros superiores e inferiores em posição que deixam os músculos relaxados; evitar movimentos repetitivos por tempo prolongado, fazer pausas, além de praticar alongamentos e atividades para fortalecimento muscular”, destaca
Para aquelas pessoas que já apresentam os sintomas de lesões relacionadas ao trabalho, o tratamento pode variar, sendo solucionados com o uso de anti-inflamatórios, compressas e repousos. Mas em situações mais complicadas, cabe a avaliação de um profissional médico sobre o uso de imobilizações, afastamento das atividades laborais e adoção de fisioterapia.
“Geralmente, não há necessidade de intervenção cirúrgica, mas a depender do caso, a cirurgia sendo bem indicada pode apresentar um bom resultado ao paciente”, diz.
Na vida de Érika, muitas dessas atitudes foram incrementadas nos hábitos diários. Desde a alimentação até o ritmo da vida física e emocional, ela diz ter feito mudanças. Mas apesar de todos os cuidados, há particularidades das doenças que a colocam em constante estado de alerta para evitar pioras.
"Para a Síndrome do Túnel do Carpo, após diversas sessões de fisioterapia, foi preciso realizar cirurgia. No entanto, estou voltando a investigar um possível retorno da doença ou até mesmo um agravamento em função da mesma. Os sintomas da fibromialgia também têm se apresentado com maior frequência e intensidade por questões, inclusive, profissionais", ela compartilha
“Como para fibromialgia não há tratamento específico, restam apenas terapias auxiliares e mudança de hábitos de vida”, conclui.