Má formação de professores e EAD estão por trás do péssimo desempenho do Brasil em matemática, diz jornalista


Estudantes brasileiros de 15 anos marcaram pontuação de 379 (de até 600), ficando na 52ª posição entre 81 países - atrás, por exemplo, de Costa Rica e Peru.

O mau desempenho em matemática dos estudantes brasileiros de 15 anos no ranking do Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) é resultado, em grande parte, da má formação de professores e do aumento dos cursos de licenciatura à distância. A análise é da jornalista Luiza Tenente, da editoria de Educação do g1.

Em entrevista ao podcast O Assunto, Luiza analisou os resultados do Pisa. Em matemática, os brasileiros marcaram pontuação de 379 (de até 600), ficando na 52ª posição entre 81 países - atrás, por exemplo, de Costa Rica e Peru.

Para a jornalista, o fato de o desempenho dos brasileiros ter sido pior em matemática do que em leitura e ciências se deve também à necessidade maior da escola e da presença em sala de aula para o aprendizado da disciplina.

"Conversei com alguns especialistas. Uma grande hipótese é que matemática depende mais da escola. Leitura, por exemplo, a gente consegue exercitar lendo um livro. Se os pais do aluno tiverem uma boa escolaridade, se a biblioteca pública da cidade for grande, eles conseguem exercitar a leitura em outros ambientes extraescolares", afirma.

"Matemática é uma linguagem que a gente usa menos no dia a dia [...], então a gente tem uma dependência maior da escola."

Brasil no vermelho em matemática: a formação dos professores

Má formação de professores

Ao citar a má formação de professores, Luiza lembra que, no Brasil, para todas as disciplinas há um problema grave para formar docentes, já que poucos estudantes se interessam pelos cursos de licenciatura. No entanto, segundo ela, em exatas isso é ainda pior.

"Matemática é pior porque dos poucos [universitários] que entram [no curso superior de matemática], que querem seguir essa carreira que já é pouco atrativa, por causa das condições de trabalho, do salário... Muitos acabam vendo mercado melhor em economia, engenharia... Cada vez menos gente se interessa por ser professor de matemática", explica.

Cursos à distância

Luiza também aponta para o fato de que muitos professores da disciplina não tem formação em matemática e, além disso, nos últimos dez anos, houve aumento do número de professores formados em cursos não presenciais, de educação à distância, o que pode refletir na queda de qualidade do ensino.

"Um caminho seria, de acordo com o MEC [Ministério da Educação],fazer uma batalha contra os cursos à distância. A gente tem um crescimento do EAD nos cursos de licenciatura muito grande aqui. Pra você ter uma ideia, na rede privada, o número de professores formados em EAD dobrou nos últimos anos, já chega a 60%", afirma.

"A gente tem um congelamento do credenciamento de novas instituições à distância nos cursos de licenciatura por pelo menos três meses. E o ministro [da Educação, Camilo Santana] disse que quer que seja uma questão 100% válida, que a gente não tenha mais curso de licenciatura que seja remoto", diz.

Falta de proposta para educação básica

Para Katia Smole, ex-secretária de educação básica do MEC, diretora-executiva do Instituto Reúna e especialista em formação de professores de matemática, o mau desempenho do Brasil no ranking do Pisa se deve a uma falta de proposta clara para a educação básica.

Katia falou, também em entrevista ao podcast, sobre como novos elementos da pedagogia poderiam ser utilizados para tornar o estudo da disciplina mais atraente: “As faculdades deveriam trazer isso para dentro da formação de novos professores”.

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