DENÚNCIA Casos de violência contra indígenas são registrados no MS: enfrentamento à discriminação étnico-racial é pauta da classe trabalhadora


Foto: Midiamax/Uol

Em 25 de novembro de 1983, o líder indígena Marçal de Souza foi covardemente assassinado por um latifundiário, no Mato Grosso do Sul. Quarenta anos depois, o caso ainda segue impune e o Brasil continua sendo mau exemplo com o registro de casos de violência contra povos indígenas.

De acordo com o site Midiamax, na última quarta-feira (22), uma família Guarani-Kaiowá, incluindo uma grávida de sete meses, foi sequestrada e torturada na região de Iguatemi (MS): a família estava a caminho da 51ª Assembleia Aty Guasu, em Caaparó (MS), que elege representantes do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI). Ainda há quatro pessoas desaparecidas. O Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Ministério dos Povos Indígenas foram acionados.

No mesmo dia, também em Iguatemi, dez homens encapuzados agrediram com socos e chutes um grupo de três pessoas: um jornalista canadense, uma antropóloga e um engenheiro florestal. Eles voltavam de uma área rural da cidade, onde foram deixar um líder indígena com quem se encontraram no mesmo evento.

Carta do Papa Francisco

Em Assembleia Geral dos Guarani e Kaiowá, realizada nesta sexta-feira (24), na região de Dourados (MS), o bispo Dom Henrique Aparecido de Lima entregou à comunidade indígena uma carta do papa Francisco.

“Quero exprimir minha proximidade neste momentos de sofrimento, assegurando-lhes do meu sufrágio por todos os membros do povo Kaiowá e Guarani já falecidos e de minhas preces ao Altíssimo para que se encontrem caminhos que possam garantir-lhes uma vida tranquila e pacífica na terra em que vivem”, diz um trecho da mensagem do pontífice.

Segundo o portal Campo Grande News, a entrega da carta é uma das ações do evento “Marçal, presente: memória dos 40 anos do assassinato de Marçal de Souza Tupã’i”. Festivais e atividades lúdicas e audiovisuais realizados em escolas municipais indígenas também integram a programação.

Causa indígena e educação pública

Encontro Estadual “Educação Pública e Povos Indígenas” debateu as demandas do ensino público para os povos originários. Foto: Simted/MS

Em setembro de 2023, o encontro estadual “Educação Pública e Povos Indígenas”, realizado em Dourados com a presença de 100 etnias e representantes de todo o Estado do MS, debateu o enfrentamento ao racismo, a discriminação étnico-racial e de intolerância religiosa. Os participantes chamaram a atenção para a necessidade de inserir a pauta da educação indígena no centro do debate sobre o ensino público.

O evento foi realizado pelo Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação de Dourados-MS, Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), CNTE e Universidade Federal da Grande Dourados.

“Nós, educadores, também precisamos nos engajar nesta causa da luta indígena pela terra”, lembra a secretária geral da CNTE, Fátima Silva.

46 milhões de indígenas na América Latina

Convocados pela Internacional da Educação para a América Latina (Ieal), representantes de organizações sindicais de diferentes países, entre elas a CNTE, se reuniram no Panamá de 4 a 6 de setembro de 2023 para a décima edição do Encontro Regional de Educação Pública e Povos Indígenas.

“Os povos e nações indígenas da América Latina representam 46 milhões de pessoas. Habitamos terras ricas em biodiversidade, bosques, água pura, minerais e outras riquezas naturais. (…) Em pleno 2023, presenciamos como os povos indígenas latino-americanos ainda enfrentam governos e políticas que reproduzem esquemas racistas (…). Esta realidade tem origem no pensamento colonial que faz parte do sistema econômico atual, que é capitalista, patriarcal, explorador, exterminador e desigual, contra o que lutam os sindicatos da educação”, aponta um trecho da declaração publicada após o evento internacional.


Além de pedir respeito pela integridade dos territórios indígenas, a declaração enfatiza a necessidade de promover um maior financiamento estatal da educação pública, com orçamento suficiente para atender às históricas carências em que está inserida a educação dos povos indígenas.

"A IEAL faz um chamado às demais organizações afiliadas na região para que se comprometam com a defesa e o cumprimento dos direitos dos povos indígenas e para que facilitem e incentivem sua integração nas estruturas sindicais”

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