Pela primeira vez desde o início da série histórica da Pnad Contínua, parcela de alunos dessa faixa etária 'encolheu' — de 92,7%, em 2019, para 91,6%, em 2022. Meta do Plano Nacional de Educação (PNE) era ter universalizado o acesso à pré-escola em 2016.
Porcentagem de crianças de 4 e 5 anos na escola caiu após a pandemia — Foto: Tetê Viviani
Em um provável reflexo da pandemia, a parcela de crianças de 4 e 5 anos que estavam matriculadas nas escolas do Brasil caiu de 92,7%, em 2019, para 91,6%, em 2022, mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgados nesta quarta-feira (7). O estudo, feito anualmente, foi pausado em 2020 e 2021, por causa da Covid-19.
Pode parecer uma queda pequena, mas é estatisticamente relevante, afirma o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E mais: nunca, desde o início da série histórica (em 2017), esse índice havia caído. Diminuir a proporção de alunos matriculados deixa o país ainda mais distante da meta de universalizar o acesso à pré-escola, que deveria ter sido alcançada em 2016, segundo o Plano Nacional de Educação (PNE).
A matrícula nessa etapa de ensino é obrigatória por lei. Mas, com o fechamento das escolas durante um período prolongado na pandemia, as dificuldades de acesso ao ensino remoto e o atraso na vacinação infantil, é possível que pais tenham tirado os filhos dos colégios, mesmo que provisoriamente.
"As crianças mais novas foram as mais prejudicadas, justamente pela maior dificuldade de manterem uma rotina de estudos on-line", afirma Natália Fregonesi, analista de políticas educacionais da ONG Todos Pela Educação.
"E, com o retorno das aulas presenciais, elas voltaram para as escolas com grandes lacunas de aprendizagem, que geram desmotivação para continuarem estudando."
Beatriz Abuchaim, da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, diz que os dados são preocupantes. "A gente já sabe que as crianças fora da pré-escola estão perdendo oportunidades importantes de aprendizagem, que criariam bases sólidas para o ensino fundamental e o ensino médio. Em geral, são crianças pretas, em situação de pobreza, filhas de mães mais jovens e com baixa escolaridade."
Veja os outros destaques da Pnad Contínua 2022 e, mais abaixo, o detalhamento de cada um deles:
A porcentagem de crianças de 6 a 14 anos matriculadas na etapa correta (ou seja, no ensino fundamental) caiu de 97,1% (2019) para 95,2% (2022).
Pela primeira vez desde o início da série histórica, mais da metade da população adulta passou a ter ensino médio completo.
O analfabetismo caiu, mas ainda está distante da meta traçada para 2024 no PNE.
A falta de vagas na creche foi o 2º motivo mais mencionado pelos pais das crianças de 0 a 3 anos que não estavam matriculadas.
No ensino médio, mesmo com a pandemia, participação dos jovens na escola aumentou.
10% das mulheres que largaram os estudos antes do ensino médio abandonaram a escola por causa dos afazeres domésticos.
Das 49 milhões de pessoas de 15 a 29 anos, 20% estavam na situação “nem-nem” — nem estudavam, nem trabalhavam em 2022.
✏️ Ensino fundamental: preocupação com atraso escolar aumenta
Desde 2016, o Brasil atingiu basicamente uma universalização do acesso à escola por crianças de 6 a 14 anos. A porcentagem em 2022 manteve-se alta, de 99,4%.
O problema aparece quando comparamos a idade da criança com a etapa de ensino em que ela está matriculada. Em 2022, 95,2% dos alunos de 6 a 14 anos estavam no ensino fundamental, considerado o adequado para a faixa etária — é uma parcela menor do que a de 2019 (97,1%).
Isso significa que parte dessas crianças até estava na escola, mas na etapa errada (provavelmente, ainda na educação infantil, mesmo após os 6 anos). Pode ser mais um reflexo da pandemia nessa faixa etária.
Mesmo com a piora do índice para 95,2%, o Brasil continua acima da meta estabelecida pelo PNE: o plano estabelece que, até 2024, pelo menos 95% consigam terminar o ensino fundamental na idade correta.
📖 Pela primeira vez, mais da metade da população adulta tinha terminado, no mínimo, o ensino médio
Pela primeira vez, mais da metade da população adulta (53,1%) tinha concluído o ensino médio.
A desigualdade racial é evidente: entre os brancos, 60,7% haviam terminado a educação básica; entre os negros, 47%.
O percentual de pessoas com mais de 25 anos que terminaram o ensino superior subiu de 17,5% (2019) para 19,2% (2022).
📚 Analfabetismo caiu, mas ainda está distante da meta traçada para 2024 no PNE
Em 2022, 9,6 milhões de pessoas eram analfabetas, ou seja, não conseguiam escrever um bilhete simples. Esse número é equivalente a 5,6% dos brasileiros com 15 anos ou mais. Comparando com o último levantamento, de 2019, houve uma queda de 0,5 ponto percentual.
Pela meta final do PNE, o Brasil deveria erradicar o analfabetismo até 2024. Estamos ainda longe desse objetivo.
Mais da metade dos analfabetos (55,3%) estava na região Nordeste.
Os índices de analfabetismo são mais altos entre os idosos (veja gráfico abaixo).
“Esses resultados indicam que as gerações mais novas estão tendo um maior acesso à educação e sendo alfabetizadas ainda na infância”, afirma o relatório da Pnad.
🍼 Creche: falta de vagas ainda é obstáculo para aumentar matrículas de crianças de 0 a 3 anos
Entre as crianças de 0 a 3 anos, a taxa de escolarização foi de 36%, estatisticamente estável em relação a 2019.
Também estamos distantes da meta do PNE, de ampliar a oferta de vagas até alcançar 50% das crianças de 0 a 3 anos.
A pesquisa listou os principais motivos de as crianças de 2 e 3 anos estarem fora da creche: em 51,3% dos casos, é uma opção dos pais; em 39,7%, é um problema na oferta de vagas.
🎒 No ensino médio, mesmo com a pandemia, participação dos jovens na escola aumentou
Taxa bruta (que só vê o total de matriculados, não importa em que etapa de ensino):
A taxa bruta de escolarização entre os jovens de 15 a 17 anos em 2022 foi de 92,2% — 3,2 pontos percentuais acima da registrada em 2019. É uma melhora relevante estatisticamente, afirma o IBGE, ainda mais em uma etapa na qual a evasão escolar é comum.
Esse índice não leva em conta se os alunos estão na etapa correta (ensino médio) ou atrasados (no ensino fundamental).
Ainda assim, o Brasil fica abaixo da meta do PNE em todas as regiões. Nenhuma alcança os 100% de acesso à educação nessa faixa etária.
Taxa líquida (que leva em conta a adequação da idade):
Se considerarmos a questão do atraso escolar, 77,2% dos jovens de 15 a 17 anos estavam frequentando o ensino médio ou já haviam concluído essa etapa na idade correta. Mesmo com a pandemia, houve uma melhora em relação a 2019, quando eram 71,3%.
Ainda estamos distantes da meta do PNE, que é de 85% de matriculados na idade correta no ensino médio até 2024.
🧹 10% das mulheres que largam os estudos antes do ensino médio abandonam escola por causa dos afazeres domésticos
O abandono escolar é mais comum aos 16 anos, mostra a Pnad.
Entre os 9,5 milhões de jovens de 14 a 29 anos que não terminaram o ensino médio, cerca de 40% afirmam que o motivo foi a necessidade de trabalhar.
As tarefas domésticas foram apontadas como razão para o abandono escolar por 10,3% das mulheres que interromperam os estudos. Entre os homens, só 0,6% deram essa justificativa.
🫤 20% dos brasileiros de 15 a 29 anos são 'nem-nem': nem estudam, nem trabalham
O IBGE analisou também quantos brasileiros estavam sem trabalhar em 2022 e sem se qualificar (ou seja, fora da escola, da faculdade, de cursinhos pré-vestibular, do ensino técnico e da qualificação profissional).
Dos 49 milhões de pessoas de 15 a 29 anos, 20% estavam na situação “nem-nem” — nem estudavam, nem trabalhavam. Houve uma queda em relação a 2019, por causa do aumento da participação dos jovens no mercado de trabalho.
👨🎓 Acesso à universidade: ainda distante da meta
Dos adultos de 18 a 24 anos, 30,4% estavam estudando em 2022 (na escola ou na universidade). É um percentual parecido com o de 2019.
Nessa mesma faixa etária, cerca de 25% estavam na faculdade ou já haviam concluído o ensino superior. A meta do PNE, nessa categoria, é de 33% até 2024.