Professoras de Serrana, SP, relatam volta às salas de aula após vacinação em massa: 'Consegui ter esperança'


Longe das escolas há um ano, educadoras têm se dividido entre o ensino presencial e a distância. Cidade foi primeira do Brasil a imunizar maioria da população contra a Covid-19.

Imunizadas, professoras de Serrana (SP) celebram volta à normalidade

Moradoras de Serrana (SP), primeira cidade do Brasil a ser vacinada em massa contra a Covid-19, as professoras Eliana Cristina Peres e Valdirene Ribeiro voltaram às salas de aula há cerca de um mês. Ao G1, elas relataram a nova realidade das escolas e o sentimento de esperança que veio junto à vacina.

"Confio muito na ciência e, com a vacinação, consegui ter esperança de retomar minhas atividades. Deu uma guinada fantástica no meu emocional", conta Eliana, de 47 anos.

Afastada das escolas há um ano, a professora conta que se adaptou ao ensino à distância, o EAD, mas avalia que tecnologia nenhuma substitui a interação presencial com os alunos, com a qual está acostumada há 20 anos.


"Foi uma mudança radical, então os prejuízos são inevitáveis. Em primeiro lugar, cuidamos da vida, mas, para o ensino, nada substitui a aula presencial, porque o processo de aprendizagem também depende de afetividade", diz.

Fortalecimento

Ainda que a imunização tenha trazido uma dose de otimismo, a professora conta que a adesão das crianças às aulas presenciais é baixa e muitas famílias ainda se sentem inseguras. Com isso, Eliana tem se divido entre o ensino virtual e as aulas na escola.

"Nós professores estamos precisando nos fortalecer ainda mais para poder transmitir para eles [alunos] um cenário melhor de esperança. [...] Muitos alunos têm relatos, perderam familiares até, e estão com a necessidade de conversar a respeito de tudo que aconteceu e tem acontecido", conta.


Ela ressalta que, apesar da imunização, não deixou de seguir as orientações. "Posso contrair a Covid-19, mas não deve evoluir para um quadro grave. A gente não pode se descuidar, porque muitas pessoas ainda não tiveram este privilégio, mas a vacinação traz uma tranquilidade para a alma e o coração", diz.


Em Serrana, a retomada gradual do ensino presencial teve início em 10 de maio. Conforme estabelecido pelo governo estadual, a escolas podem receber no máximo 35% dos alunos matriculados por dia. Divididos em três grupos, os alunos vão à escola em dias alternados.

Antes do retorno, os professores passaram por uma capacitação sobre os novos protocolos de segurança adotados nas escolas. "Numa formação, eles disseram em um sentido metafórico que a gente estaria na linha d

Da saudade ao abraço


Para Eliana, a vacina trouxe, além da possibilidade de voltar a encontrar os alunos presencialmente, a esperança de retomada de atividades do dia a dia, como ir à academia e abraçar os pais, sem medo de adoecer.


"Fiquei muito emocionada. Antes, eu estacionava o carro na frente da casa dela [minha mãe], ela ficava na varanda, e a gente conversava a uma distância imensa. Após a vacinação minha e dela, entrei na casa dela, porque me sinto mais segura", conta Eliana.


A professora, que dá aula de português para turmas do 6º ao 9º ano na rede municipal de ensino, ficou particularmente preocupada com a pandemia por ser asmática, hipertensa e obesa, condições que a colocam em grupos de risco para a doença.


"Eu tinha medo pela minha vida e pela vida das pessoas que amo. Fiquei eufórica demais quando descobri que seria vacinada. Na véspera da vacinação, nem dormi", conta.

Entre a expectativa e a preocupação


Assim como Eliana, Valdirene, de 43 anos, acredita que o contato possibilitado pelo ensino presencial é insubstituível, especialmente para crianças. Conhecida como "Tia Val", a professora dá aulas para o 1º ano na rede municipal e conta que conseguiu alfabetizar os alunos, mas passou por dificuldades.


"Até o elogio, que é muito importante para a aprendizagem, fica prejudicado no on-line", diz. "Tenho um contato muito bom com os pais, mas senti um cansaço deles, que trabalham o dia todo, têm afazeres domésticos, e acumularam o apoio escolar para os filhos, que precisou ser maior."

Valdirene, que recebeu a segunda dose da CoronaVac um dia após Eliana, vive a felicidade com a possibilidade da volta às aulas presenciais misturada à preocupação em relação aos professores que trabalham em Serrana, mas moram em outras cidades e, portanto, ainda não foram vacinados.


Professora prepara volta às aulas presenciais em Serrana (SP), única cidade do Brasil vacinada em massa contra a Covid-19 — Foto: Valdirene Ribeiro/Acervo pessoal


"O contato com as crianças é muito próximo. Por não ter noção de perigo, elas chegam muito perto, abraçam e isso pode nos infectar. Minha expectativa é de que seja um momento de alegria e segurança. Para isso, todos precisam estar imunizados", diz.

Agora, além de aproveitar as aulas para conscientizar as crianças sobre os cuidados necessários para frear a transmissão do vírus, Valdirene passou a ensiná-las sobre a vacinação, com a esperança de que, em breve, todas recebam o imunizante.



"Foi emocionante ser vacinada. Me trouxe uma sensação de alívio desde a primeira dose. Alguns não tomaram por medo, mas, conforme as pessoas iam tomando e contando uns aos outros, todo mundo passou a se sentir seguro", diz.


Projeto S

Eliana e Valdirene são voluntárias do "Projeto S", iniciativa do Instituto Butantan que avaliou a capacidade da CoronaVac em diminuir taxas de transmissão, casos graves e mortes por Covid-19 em uma cidade inteira.


A aplicação do imunizante durou cerca de três meses e foi concluída em 11 de abril. Os resultados iniciais do estudo apontam que que, após o fim da vacinação, as mortes pela doença caíram 95% na cidade.

Os resultados da pesquisa mostram, ainda, que o número de casos sintomáticos da doença teve uma redução de 80%, enquanto as hospitalizações caíram cerca de 86%. Para os cientistas, o controle da pandemia se deu depois que 75% da população recebeu a segunda dose.


Em abril, Serrana já observava uma queda expressiva na incidência da Covid-19. Após registrar 699 casos em março, o número caiu para 251. As mortes passaram de 20 para 6 no mesmo período.

A pesquisa do Instituto Butantan também revela que, enquanto 15 cidades vizinhas apresentavam aumento no número de casos, Serrana caminhava na contramão e apresentava reduções expressivas.

G1

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