Secretário de Educação do Acre desabafa sobre o desvio de merenda escolar: “Quando desconfiamos chamei a polícia e avisei ao governador e ele disse: vai fundo”


LEGENDA – Documento assinado pelo secretário Mauro Sérgio dia 3 de fevereiro, quando ele avisou a polícia sobre o que estava acontecendo no setor de merenda escolar


LEGENDA – Documento assinado pelo secretário Mauro Sérgio dia 3 de fevereiro, quando ele avisou a polícia sobre o que estava acontecendo no setor de merenda escolar

O secretário de Educação do Acre, professor Mauro Sérgio Cruz, se manteve calado o tempo todo desde que a polícia desbaratou um esquema estadual de desvio de merenda escolar, que ganhou as manchetes de jornais por todo o mês de abril. Nesta quinta-feira, 23, perto de um mês depois da operação que resultou inclusive em prisões de empresários e servidores, ele decidiu revelar o que pouca gente sabe sobre o fim desse esquema que parece ser bem antigo, segundo ele, dentro da secretaria. Ao blog do Evandro Cordeiro, o professor Mauro, um ex-padre de fala mansa, que despreza vaidades, como andar de paletó e estar o dia todo dentro do gabinete, conta estar aliviado por ter a oportunidade de mostrar à sociedade como tudo foi descoberto durante sua gestão.
Primeiro, segundo o professor Mauro, desde que foi convidado pelo governador Gladson Cameli (Progressistas) para assumir a pasta, cujo orçamento é cerca de duas vezes maior que o da prefeitura de Rio Branco, aceitou sabendo de uma realidade que são os cargos de confiança. “Eu coloquei na cabeça que estou secretário, não sou secretário. Na verdade eu venho da sala de aula e é pra lá que eu vou voltar, razão pela qual estou tentando fazer de tudo para tornar a sala de aula o mais agradável possível para quando eu voltar pra lá”, diz. Depois, aprendeu a conhecer o governador, que acredita, confia e apoia todos os secretários, mas é duro com qualquer ato que possa manchar seu governo. Por essa razão, o professor conta que trabalhou 2019 um tanto sobressaltado, por não ter o domínio total da secretaria. “Quando chegamos aqui, o governo anterior tinha deixado os serviços de 2019 todos contratados. Eram empresas antigas que mantinham relação com eles e nós nada pudemos fazer. Cumprimos os contratos e confesso: não recebi nenhuma reclamação de diretores, nem de alunos. Pelo contrário. Recebemos elogios porque o governador determinou que ao invés de uma, nós estabelecessemos duas merendas para os alunos”, afirma.
Em 2020, o secretário disse que, finalmente, conseguiu colocar sua equipe em todos os setores da pasta, inclusive no de merenda escolar, já com contratos feitos a partir de licitações da nova gestão. Em pouco tempo ele foi avisado que havia algo estranho. “O que eu fiz – e estão aqui os documentos que provam – ? Avisei ao governador, à Controladoria, à Procuradoria e ao Tribunal de Contas. Chamei todos pra cá. O governador me disse: Mauro, vai fundo, não deixa escapar nada. Aí chamei a polícia e aqui está o documento por meio do qual fiz o que o governador determinou”, conta. A partir de então as investigações se aprofundaram e a polícia então descobriu como funcionavam os desvios criminosos.
Os acusados estão respondendo à Justiça, alguns foram presos e o episódio acabou sendo uma grande lição. “Nos convidou à mudança”, diz Cruz. O dinamismo da aquisição e distribuição de merenda poderá ser totalmente mudado nos próximos meses. Enquanto isso, as portas foram fechadas para o crime. O governo estuda uma outra forma de fazer com que a refeição chegue à barriga do aluno por intermédio de métodos que deram certo em São Paulo, na Bahia e em Brasília. Qual seja: o aluno ganha um cartão e ele mesmo vai passar numa máquina para ‘pagar’ sua merenda. A empresa vencedora vai pra cantina da escola trabalhar para aprontar o alimento e esperar o aluno com esse cartão. O governo só vai pagar o que for consumido, sem contar que “isso impossibilita qualquer esquema”, segundo Mauro Sérgio. “Vamos sair dessa coisa arcaica”, comemora o secretário.
Mauro Sérgio disse ainda ao blog que as pessoas precisavam saber com mais detalhes todos os acontecimentos, de forma cronológica, para evitar que ele próprio seja colocado sob suspeita. Ele conta, por exemplo, que foi depor na Polícia por conta própria e que não poderia ser diferente. “Eu sou o chefe da pasta. Tinha que ser ouvido, mas as pessoas já pensam logo de outra forma”, diz em tom de desabafo. No fundo, Mauro afirma estar tirando um aprendizado de tudo e que está satisfeito, sobretudo, por continuar prestigiado pelo governador Gladson, pelos poderes controladores CGE e PGE, além de Casa Civil e da bancada federal. De fato, os três senadores (Petecão, PSD; Bittar, MDB; e Mailza, PP) continuam apostando na seriedade de Mauro Cruz, assim como maioria dos deputados federais.
Com relação a exoneração do subsecretário Márcio Matos Mourão, o secretário Mauro Sérgio disse que está só ocorreu no momento inadequado, uma vez que já estava estava combinado para ele assumir uma outra função na secretaria, funcionário de carreira exemplar que é. “O nome do Márcio nem aparece nessa história. Ele não é nem citado em nenhum documento da polícia”, defende o secretário. Por fim, o professor Mauro Sérgio encerra a conversa com o Blog assim: “Tivemos toda a oportunidade de deixar isso em silêncio, mas optamos por trazer à tona, revelar à sociedade, porque queremos uma sociedade melhor e isso começa com transparência e tem que começar exatamente na escola”.

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